terça-feira, 30 de setembro de 2008

O lado B de Alex

Sim, pode parecer absurdo, mas creio que não sou a única a perceber o "lado B" de Alex, o destrutivo e pervertido personagem do genial filme de Stanley Kubrick, Laranja Mecânica de 1971. Num roteiro único cheio de linguagem própria, o filme explora um tema absolutamente contemporâneo. “A Clockwork Orange” surpreende e choca seus espectadores até hoje.

Completamente ignorado pela mãe, o personagem interpretado por Malcolm MecDowell vive uma vida desenfreada junto a sua gangue. Delinqüentes que matam, roubam e estupram.
Num futuro psicodélico e sombrio, “Alexander the Large", vive uma rotina de violência, sexo e caos em Londres, usando uma linguagem própria misturando inglês, russo e gírias criadas pelo bando. Ao ser preso em uma de suas ações absurdas junto a sua gangue, Alex é submetido a testes com drogas, numa tentativa de dominar seus instintos subversivos. E é nesta circunstância que este incrível personagem bizarro se mostra absolutamente astuto e inteligente, contrapondo sua personalidade desfalcada e doentia revelada no começo do filme.
Surge então o que chamo de: primeira vontade de empatia com o personagem. A forma como Alex consegue lidar com o tratamento é que mostra seu lado B, e automaticamente ameniza a primeira impressão, despertando uma confusão de conceitos sobre esta figura intrigante. O fato é que ele não deixa de ser um pervertido e agressivo. Seus instintos dominantes são apenas controlados com o tratamento, que diga- se de passagem, tão hostil e violento quanto o próprio De large.
As seções de tortura e as reações que tais causam no personagem despertam a segunda vontade de empatia. Privado de maneira brutal de seus impulsos violentos, Alex perde também seu livre arbítrio.
Em suma, o que se constata da personalidade de Alex e que traz consigo esta parte cativante, é que esta figura não passa de um ser humano descartado pela sociedade, por isso a falta de limites, não é um louco, como parece ser e pelo contrário, é um cara dotado de grande inteligência mas que canaliza sua habilidade de pensar em gestos agressivos e atos violentos.
O lado B deste incrível e complexo personagem, é tão admirável, que nos causa medo, um paradoxo atual abordado em tempos escusos que é no mínimo, genial.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Ele é triste


É que ele não vê, ele não sente, ele perdeu o tato.
Nunca enxergou pela janela da alma, sempre viu em preto e branco.
Hoje esboça a felicidade, numa destorcida paisagem bucólica.
É equivocado, nutre seu ego com migalhas sentimentais, também equivocadas.
Deixa-se influenciar, se perde no breu, não ilumina o próprio coração.
Vazio, oco, eco..

Triste, perdido e sem viço, consegue no máximo um sorriso canto de boca, amarelo, sem graça.
Parece não acreditar mais na beleza da vida, perdeu a fé nas pessoas. Na verdade; nas boas pessoas.

Talvez equivocada seja eu, de nutrir naturalmente o que há de bom em “ser” humano. Em desejar que todos também o sejam e acreditar em tal. Ingênua, não estou machucada pela vida.
Me curei dos arranhões que tive até aqui. Escolhi meus caminhos e não me arrependo deles.
Não tenho realmente a história que ele tem, eu escrevo a minha a lápis, ele a caneta que é mais difícil de corrigir. Procuro de fato me relacionar com boas pessoas, de sorriso farto como o meu. Ele é só, muito só, perdeu o dom de se relacionar.
Não sabe se expressar, não sente o doce que a palavra tem, prefere o amargo que ela pode se tornar.

Se desidratou como uma laranja para enfeite em arranjos tristes , somente de perto identifica-se que um dia foi laranja, com casca ríspida, mas doce e cheia de frutos por dentro.
Perdeu, se perdeu, me perdeu.