segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pulei no buraco de Alice



Não. Eu não pulei ali correndo atrás do coelho atrasado. Pulei porque achei que a queda livre poderia me causar alguma catarse, e sei que, em breve, me encontrarei com todas àquelas criaturas antropomórficas interessantes quando alcançar a segurança do chão. Mas o buraco parece ser profundo e a queda, pelo visto, será demorada. Sempre tive medo de grandes adrenalinas. Pulei neste buraco, mas não saltaria de paraquedas. Sou medrosa, prefiro as desventuras, as sensações seguras. Nunca gostei de parque de diversões nem de filmes de terror. Percebe como sou medrosa?! Mas pulei aqui neste buraco e estou em queda. Sinto-me desprotegida. É quase um parto. Cortaram-me o cordão umbilical novamente, ou eu mesma cortei?! Quero a sensação reconfortante do colo daquela que me gerou.
Por que não consigo me divertir com a sensação de quase voar?! Não relacionam isto com a grande sensação de liberdade?! Em trechos do buraco existem espelhos, mas eu não me reflito neles, vejo outras pessoas quando me olho. Onde estou eu nesses espelhos?! Quando brevemente consigo me ver, me vejo menina, dentes de leite. Ouço risadas ao longe?! Quem são e do que estão rindo?! Minha insegurança sugere que pode ser de mim. Será que estou caindo de jeito desengonçado?! Meu cabelo está bagunçado?! Mas qual a importância disso tudo aqui neste buraco?! Por que penso nisso em queda livre?! Quando por instantes consigo relaxar, sinto um prazer querendo me invadir, mas outros pensamentos tratam de ocupar o lugar desta sensação. Sinto vergonha de mim, dos outros.
Vou me entediando. Eu e a minha constante insatisfação quando uma expectativa não é cumprida. E justo agora o gato bizarro passa por mim com aquele sorriso debochado, crítico. Então começo a pensar como será assim que chegar lá no mundo fantástico descrito por Lewis Carrol. Quero uma análise com a lagarta e ao invés de chá, um bom porre ao lado do Chapeleiro Maluco e seus amigos. Penso no lá. Penso no que dizer a eles. Quero causar boa impressão. Quero que eles gostem de mim. Quem sabe não me convidam pra ficar. Não quero passar pela parte da Rainha e nem o “cortem a cabeça dela”, mas será possível me livrar desta parte desagradável?! É possível ficar somente com a parte boa da viagem?! Olha o gato de novo!