segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Literavida


E o que são os dias se não o livro em branco da vida?!

Escrever cada página com intensidade, cada capítulo com sabedoria e entender que final totalmente feliz só existe em contos de fadas.

Faça então, do seu livro, uma história sem fim!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Para Menino Fernando

Esta noite jantei com o silêncio
Tenho mantido durante a semana, diálogos constantes com as palavras distância e saudade
Elas também jantam comigo..
Ocupam a mesa mesmo sem serem convidadas.. não tenho escolhas, são elas que me fazem companhia agora

Estou aprendendo a conviver com o silêncio que me consome quando a noite chega e nao tenho voce por perto, com a saudade que me persegue antes de dormir e com a distância que não me deixa recorrer ao seu amor, quando é quase sufocante ficar sem você..

Aprendendoa conviver. Mas jamais a me acostumar!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Eu Ribalta


Foi aí então que escolhi ficar atrás da coxia

Vendo as cores fortes daquela elaborada iluminação perder a força atrás do pano preto e do cenário

Não quis perder quilos ao transpirar

Recusei protagonizar

Estrear

Ouvir um sonoro “Merda” antes das três batidas de Stanislavski

Não tolerei a sensibilidade que eu mesma exigia de mim para dar vida a eles

Não os escutei me chamando de louca

Fugi de cada personagem

Concentrei no ruído, na interferência. Peguei carona com o previsível

Me aproximei do óbvio, flertei com a rotina e me casei com o acaso

Tivemos filhos. Vários!

Que saudade daquele tempo em que o palco era o meu lar, os aplausos meu alimento, os personagens meus amigos, o espetáculo minha vida!

Eu fui atriz!

Mas nunca tanto como agora

Presa a este devaneio, sinto saudade corrosiva daquilo tudo que um dia pude ser

Hoje seguro o figurino com cheiro de guardado

Me despi de mim e nem mais na coxia tolero estar

Sou hoje tudo aquilo que nunca idealizei

Eu sou só. Medo da Ribalta.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Música para quem não sabe tocar


Fico aqui, morrendo de vontade de ser tão geniosa musicalmente como caras que eu admiro tanto e que tanto me comovem quando ouço. Fico também me perguntando como se dá o gosto musical, o que faz os ouvidos agradecerem certas melodias e outras não. Melhor explicando, porque simpatizo mais com o Jazz do que com o Blues, por exemplo?!

Sei falar do que o Jazz me causa, talvez porque é o que mais me faz apurar minha habilidade de admiradora total de quem escuta, mas não sabe tocar.

Adoro a imprevisibilidade do improviso, de memorizar facilmente os acordes base dos temas já conhecidos dos grandes nomes como "Chick Corea" e seu incrível tema “Spain”. Mas o que mais me fascina no jazz é que cada músico imprime sua identidade nos improvisos (o que também me faz gostar mais de uns que de outros).

É no jazz que consigo ver mais claramente a inteligência musical de quem toca. Da quantidade de acordes que o cara faz e eu não consegui acompanhar, mas sei que foi genial.

Comecei bem, escutando os clássicos da MPB, bossa nova e bom rock nacional (aqueles que não compõem com três acordes), depois fui conhecendo a música instrumental, o jazz e o blues, e sempre gostei do casamento letra + melodia, acho sinceramente que uma complementa a outra. Agente nunca sabe quando foi a primeira vez que escutou aquele cara, aquele tema, aquela música. Mas lembra que procurou no myspace, no Google, na comunidade de discografias do orkut para tentar ver se os outros sons do álbum são tão bons ou melhores do que aquele que escutei neste algum lugar que nunca me lembro. Não sei tocar, mas sei escutar. Portanto, abaixo, duas dicas do que tenho escutando atualmente, que estranhamente me influenciam no que sou, no que ainda não sou e no que quero ser (em todos os sentidos).

Pra começar a série “Músicas para quem não sabe tocar” indico dois CDs brasileiríssimos, de dois caras que muito bebem na fonte do jazz contemporâneo:

- CD Arthur Maia– 1996

Porque é Superbacana?

Baixista das antigas no cenário instrumental brasileiro, Arthur Maia tem um estilo de fundir o jazz com um groove brasileiro, imprimindo em suas músicas um balanço gostoso e músicas muito melodiosas.

Minha dica:
Faixas 1 e 3 ( “Sonora” e “Alpha”)

Conheça o cara: www.myspace.com/arthurmaia


- CD Dwitza -Ed Motta -2002

Porque é Superbacana?

Primeiro porque é Ed Motta, segundo, porque o cara sai um pouco do pop, para viajar em experiências com instrumentos estranhos, vocalizações não menos estranhas, mas que sem dúvidas, mostra como em nenhum outro disco, sua bagagem musical e seu gosto apurado pelo jazz.

Minha dica:

Faixas 5 e 14 ( “Lindúria” e “Instrumetida”)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A porta do meio

Entre as três, ela escolheu a porta do meio, a sem adornos.
Entrou.
Olhou em volta e num mergulho sensato percebeu que era a porta errada.
- É que as outras duas estavam “enfeitadinhas” demais, pensou.

Desconfiou, pois a insanidade do cotidiano jurou que tudo que é bonitinho, alegrinho, enfeitadinho, não é real. É diminutivo.
Dentro daquele lugar lembrou da justificativa torpe pra si mesma. Sentiu-se tola, seca.
E viu que talvez o diminutivo dos enfeites das portas ao lado é que a faria se sentir mais ela.
Naquele lugar só janelas antigas, que rangiam quando se abriam.
A paisagem era confusa, como se um míope estivesse olhando.
No canto direito uma mesa e uma cadeira , também antigas. Um papel já amarelado e um lápis comido pelo tempo.
- Se sentou. Imaginou o que teria nas outras duas portas.
Desesperou.
Catando as migalhas de si que se espalharam ao chão daquele lugar assim que entrou, descobriu que num passado remoto, ela construía artesanalmente seus enfeites para as portas que por ventura iriam se abrir.


Numa insuportável conclusão da escolha equivocada que fez, percebeu que havia escolhido a tangente óbvia de um labirinto retilíneo. Sem saídas, sem possibilidades e sem nenhuma verdade. Somente a verdade nua e crua de que aquela não era a porta certa.

- Bateram à porta.
Fingiu que não estava, afinal de contas não era mesmo ali que queria estar.
Sentiu-se mentirosa, envergonhada pela escolha errônea.
Já haviam descoberto seu equívoco.

Sentada na cadeira, relembrou seus adornos de pureza infantil e tola.

Olhou para o papel à mesa e percebeu que naquele ambiente onde tudo parecia muito velho e acinzentado, a única coisa que fazia sentido e parecia ter vida era o papel de cor amarelada.
E ali, com lápis comido pelo tempo e o papel desgastado, recomeçou a esboçar seus enfeites de outrora. De pureza infantil e tola, mas que em meio ao vazio daquele lugar de porta sem adornos, lhe trazia uma felicidade sem precedentes.