terça-feira, 24 de novembro de 2009

Eu Ribalta


Foi aí então que escolhi ficar atrás da coxia

Vendo as cores fortes daquela elaborada iluminação perder a força atrás do pano preto e do cenário

Não quis perder quilos ao transpirar

Recusei protagonizar

Estrear

Ouvir um sonoro “Merda” antes das três batidas de Stanislavski

Não tolerei a sensibilidade que eu mesma exigia de mim para dar vida a eles

Não os escutei me chamando de louca

Fugi de cada personagem

Concentrei no ruído, na interferência. Peguei carona com o previsível

Me aproximei do óbvio, flertei com a rotina e me casei com o acaso

Tivemos filhos. Vários!

Que saudade daquele tempo em que o palco era o meu lar, os aplausos meu alimento, os personagens meus amigos, o espetáculo minha vida!

Eu fui atriz!

Mas nunca tanto como agora

Presa a este devaneio, sinto saudade corrosiva daquilo tudo que um dia pude ser

Hoje seguro o figurino com cheiro de guardado

Me despi de mim e nem mais na coxia tolero estar

Sou hoje tudo aquilo que nunca idealizei

Eu sou só. Medo da Ribalta.

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