Foi aí então que escolhi ficar atrás da coxia
Vendo as cores fortes daquela elaborada iluminação perder a força atrás do pano preto e do cenário
Não quis perder quilos ao transpirar
Recusei protagonizar
Estrear
Ouvir um sonoro “Merda” antes das três batidas de Stanislavski
Não tolerei a sensibilidade que eu mesma exigia de mim para dar vida a eles
Não os escutei me chamando de louca
Fugi de cada personagem
Concentrei no ruído, na interferência. Peguei carona com o previsível
Me aproximei do óbvio, flertei com a rotina e me casei com o acaso
Tivemos filhos. Vários!
Que saudade daquele tempo em que o palco era o meu lar, os aplausos meu alimento, os personagens meus amigos, o espetáculo minha vida!
Eu fui atriz!
Mas nunca tanto como agora
Presa a este devaneio, sinto saudade corrosiva daquilo tudo que um dia pude ser
Hoje seguro o figurino com cheiro de guardado
Me despi de mim e nem mais na coxia tolero estar
Sou hoje tudo aquilo que nunca idealizei
Eu sou só. Medo da Ribalta.
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